quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lasar Sagal

Conto criado por : Laysa de Gouveia

A partir do quadro de: Lasar Segall

Conta à lenda que certa época em uma cidade da África, qualquer homem branco que ousasse ter qualquer ato racista era morto imediatamente por quem quer que fosse o ofendido e jogado num lixão da cidade, para que seus corpos fizessem parte de toda aquela sujeira.
Certo dia Álvaro, uma criança branca perguntou para um negro:
- Qual o intuito de todas essas mortes? Á momentos em que nem sempre um branco morre por motivo justo.
E ele lhe respondeu:
- Você não acha mesmo justo meu filho? Você ainda é muito pequeno, tem muito que aprender.
- Nem sempre as palavras ou ações dos brancos é com a intenção de vos atingir!
- Racismo direto ou indireto, com intenção ou sem garoto, continua sendo racismo! Estamos julgando a vida daqueles que sofreram nas senzalas, que apanham dos “branquinhos” fora do nosso país. Quando eles estão fazendo isso por acaso param pra pensar na injustiça que estão cometendo?
- Pensando bem, é realmente justo senhor Lucidário.
Os dois se despediram e Lucidário ficou com as palavras do garoto no pensamento. Quis ele, então, usar os corpos dos brancos como inspiração, como exemplo para os que virão, exemplo de justiça cumprida, não quero mais que fosse simplesmente um amontoado de corpos.
Enquanto pensava naquilo chegou seu amigo Abaldo com mais um corpo, e ele lhe perguntou:
- O que ocorreu com este elemento meu amigo?
- Imagina que estávamos eu e minhas crianças entrando na velha canoa para irmos a escola, quando esse aí olhou e disse: - Para que todo esse esforço meu senhor? Esse lugar cheio de negrinhos como é nunca irá à frente! – No mesmo momento peguei minha arma de caça e dei-lhe um tiro dizendo: se um deles fosse um grande médico você poderia ser salvo, mas já que não é assim você sentirá essa dor até a morte, e foi assim mesmo que aconteceu, e agora estou eu aqui com mais um safado racista.
- Mas meu amigo, andei pensando que todos esses corpos antes de serem queimados e virarem pó precisam deixar algum significado para a próxima safra de negros que virão quando não estivermos mais aqui. Quero que essa nossa época seja lembrada como a época em que a justiça foi feita, deve servir de algum exemplo.
- Realmente meu amigo, este é um fato que precisa ser registrado, antes de tudo começar a feder, afinal esses amolfadinhas que se acham perfeitos começaram a poluir nosso ambiente rapidamente. O ideal seria fazer uma pintura, um retrato, mas quem usaremos para isso?
- Certo senhor Abaldo, é uma ótima idéia, e é exatamente o que vou fazer, e já sei também quem será o autor dessa nossa obra de arte e será um branco, o Lasar Segall.
No mesmo momento Lucidário saiu em busca do seu artista, que teria sua vida zelada por ele em troca da pintura colocada em suas mãos.
- Meu senhor quero que você faça a melhor e mais bela pintura de sua vida.
- E qual será o meu tema?
- O amontoado de corpos brancos do lixão da nossa cidade.
- Nunca! Nego-me, será uma traição para com meus irmãos de pele.
- Ou é a pintura ou sua vida meu caro!
Optando pela sua vida ele não viu outra escolha e aceitou a ordem seguindo Lucidário até o lixão.
- O que o senhor quer exatamente?
- Ora meu querido, não está vendo? Você não é um pintor? Eu quero tudo isso aqui registrado como seu melhor quadro.
- Mas só irei fazer a pintura, não autenticarei esse quadro nunca!
E lucidário ameaçando empurrá-lo em cima de todos aqueles corpos disse:
- Autenticará sim meu caro Lasar. E o levará por todo o mundo e terá orgulho de contar a história do acontecido.
Ele rapidamente começou a pintar o quadro, quando já estava nos contornos finais o filho mais velho de Lucidário veio ofegante dizendo:
- Papai! Vamos corra! Meu irmão, seu filho acabou de pedir pra nascer!
Lucidário emocionado apressando o pintor disse:
- Vamos Lasar apresse-se, meu novo filho será o primeiro a ver sua obra de arte!
Mas ao chegar ao hospital não escutou choro de criança, só via uma mão branca sobre a pele negra de sua mulher impedindo que seu filho viesse ao mundo. Aquilo o deixou em nervos, ele rapidamente empurrou o médico e pôs-se a fazer o parto de sua mulher, quando seu filho já estava bem e com a vida fora de perigo ele lhe mostrou o quadro dizendo:
- Meu filho este quadro mostra a justiça do nosso povo, é a prova de que nós negros também somos GENTE e temos os mesmos direitos, e o corpo desse médico safado agora vai pra esse mesmo lugar fazer parte deste amontoado pela sua vida. Ele foi morto, pois queria tirar a sua vida, afinal nem todo obstetra quer colocar mais um negro no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário